Já te atentou onde pisas na cidade? Nossos chãos são repletos de sinais, mensagens, resíduos e detritos que explicam muitas coisas. Conta-nos várias histórias que, por vezes, nem imaginamos: aquela que vem dos tipos de pavimentos que se substituem, das mensagens que se perpetuam, dos tipos de objetos que são dispensados. Os sulcos que formam cicatrizes dos talhos de retrabalho, das estampas que volteiam como tatuagens. Aliás, quem diria que máscaras protetoras seriam tão perigosamente presentes em nosso domínio comum, nesse conturbado 2020...
O chão da rua mostra muito: quem somos e para onde vamos. São repletos de poética, beleza e dramaticidade; mas também de dureza, tristeza e incompletude, revelando (ou não) os esforços físicos, financeiros e sociais para que fossem concretizados. Emana dos/nos chãos uma dimensão cultural que os transformam numa obra viva. São verdadeiros espelhos opacos de uma dada cultura urbana.
Floorscapes #01
ACHADOS &
PERDIDOS
CONFLITOS
AFLORAR
DIÁLOGOS
INSCRIÇÕES
RASTROS,
TRAÇOS E
TRAJETOS
CONEXÕES
A PEGADA
MECÂNICA
DES
NÍVEIS
CHUVA
REFLEXOS E REFLEXÕES
SOBRAS
ADAPTAÇÕES
PONTOS
TEXTURAS
Os sentidos devem estar atentos para captar essa riqueza. Deve-se olhar mais de uma vez para a mesma mirada a fim de desvelar o que está ali à mostra, chutado e pisoteado. Olhar de forma diferente. Aprender a ver. É um exercício de tenacidade e de paciência, que exige atenção forçada, já que a nossa acuidade se esvai em razão da exposição continuada. Esse foi o desafio a que essa exposição respondeu. E se fez caminhando, habitando o mundo que nos cerca.
Essa mostra virtual é um primeiro ensaio, uma licença poética para reunir algumas temáticas que interessam aos seus autores na densa paisagem urbana. Registramos os elementos da paisagem do chão, o floorscape. Mesmo com as dificuldades desse momento de pandemia, caminhamos pelos arredores de nossas casas (no limite aproximado de 500 metros percorríveis a pé), fotografando o que o chão nos revelava. Simples assim, mas difícil mesmo. Esperamos que se deleitem e renovem seus olhares para o chão que caminhamos.
Texto e curadoria: Alessandro Filla Rosaneli
Montagem e editoração: Maria Luiza Ballarotti, Letícia Winkert e Kauan A. Fonseca