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Diferentes olhares e usos do espaço público: o caso dos “pixadores”

Por Janelize Rodrigues

O assunto referente à pixação sempre foi bastante polêmico para a sociedade contemporânea. As primeiras pixações no Brasil possuíam cunho político e foram uma forma de protesto durante a ditadura militar. Se tornaram emblemáticas, ainda na década de 1960, pixações de frases como “Abaixo a Ditadura!” em muros, praças ou prédios públicos das grandes capitais brasileiras. Na década de 1980, o movimento punk, principalmente em São Paulo, passou a incorporar cada vez mais as pixações como forma de expandir os pensamentos de protestos políticos, sociais e culturais. Hoje, a pixação é parte integrante da paisagem urbanística da maioria das cidades do Brasil e é assunto de debate em diversos meios acadêmicos. Na sua imensa maioria, os pixadores são jovens que residem em regiões da periferia das cidades, mas o local onde se concentram as pixações ainda são as regiões centrais das mesmas. Não é de meu interesse aqui levantar a questão do julgamento moral e legal sobre as ações dos pixadores, mas sim procurar entender e levantar para o debate de que forma as pixações representam para estes atores a sua visão e ressignificação do espaço público.

Pelo fato da maior parte dos pixadores residirem nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos, locais que como bem sabemos, possuem uma carência dos mais diversos recursos básicos para viver, a pixação se desdobra como expressão de uma juventude que foi marginalizada pelo próprio Estado: o ato de pixar é, dentre outras coisas, uma resposta a esta situação, claramente impulsionada pela revolta e pelo ódio. Por conta disso, podemos colocar este como sendo um dos motivos pelo qual grande parte das pixações estarem nas regiões centrais da cidade: o centro, com seu dinamismo, modernidade e local de cidadania é escancarado diariamente com a revolta de uma juventude periférica marginalizada. Mas, engana-se quem pensa que a pixação procura somente se comunicar com o “outro” por meio desta “violência” moral, invadindo propriedades privadas, públicas e incomodando os olhares de observadores. Existe entre este grupo uma leitura e um uso do espaço público específico e que para eles trazem significados diversos.

Uma pixação nunca carrega em si somente um indivíduo. Ela é parte de uma ação de uma crew ou grife, ou seja, um grupo de pixadores, geralmente de um mesmo bairro ou de uma mesma região. Portanto, juntamente da assinatura de quem o faz ou qualquer outro tipo de mensagem que queira passar, o pixo acompanha uma coletividade e uma noção de territorialidade – zona sul, zona norte, zona leste ou zona oeste – que agora sai do meio periférico e se expõe em diversos outros locais da cidade. A visibilidade é uma das maiores motivações dos pixadores, por conta disso, para ser lembrado é necessário estar disposto a assinar o maior número de locais ou regiões de grande movimento de veículos e pessoas. Não é à toa que faixadas de prédios, comerciais ou residenciais nos centros das cidades, se tornam alvo destes personagens, uma vez que a visibilidade é plena para todos. Marquises, viadutos e avenidas de grande movimento também são locais de preferência, pela facilidade em obter a atenção de todos. Além disso, escalar o prédio mais alto, em um local arriscado onde o pixador corre risco de vida, faz com que sua fama seja reconhecida por todos aqueles que se identificam com a cultura de rua. Aqui, o uso do espaço público por este agente é fator determinante para colocar um indivíduo, marginalizado desde sempre pela sociedade, a obter respeito em meio a iguais.

Os espaços públicos das grandes cidades podem estar relacionados com a ideia de locais em que dividimos e coletivizamos a cidadania. Mesmo assim, outros atores e situações adversas a esta forma de pensar também estão ali, ocupando locais e utilizando este espaço de maneiras diferentes. A pixação, o uso de drogas em plena luz do dia, as necessidades fisiológicas que são deixadas pelas calçadas da cidade por moradores de rua são exemplos de atitudes que consideramos como uma violência ao espaço público. Mas, no entanto, estão ali demonstrando que novos dilemas serão sempre colocados diariamente neste espaço. Para abrir o leque de discussões sobre o caso da pixação nos espaços públicos, sugiro o Documentário “Pixo” (2009) de João Wainer e Roberto Oliveira e a dissertação de Alexandre Barbosa Pereira “De rolê pela cidade: os pixadores em São Paulo”.

 

Referências bibliográficas

PEREIRA, Alexandre Barbosa. Cidade de riscos: notas etnográficas sobre pixação, adrenalina, morte e memória em São Paulo. Revista de Antropologia. São Paulo, v. 56, n. 1, p. 81-110, 2013. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/64462/67117> Acesso em: 25 mar. 2015

_________. De “rolê” pela cidade: os “pixadores” em São Paulo. São Paulo, dissertação,

FFLCH-USP.

PIXO. Direção de João Wainer e Roberto Oliveira. São Paulo: Sindicato Paralelo Filmes, 2009. 61 min. Disponível em: < https://vimeo.com/29691112> Acesso em: 25 de Nov. 2020.

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