top of page
20220621_092825_edited.jpg
zaca-1.jpg

PRAÇA ZACARIAS

Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.

A PRAÇA

Apesar de pequeno porte, o local foi de suma importância para a cidade antes mesmo da emancipação da Província, uma vez que o local possuía uma fonte de água para os moradores. Em um momento em que a cidade crescia, mas que ainda não possuía um sistema de água encanada, as poucas fontes de água potável – inclusive na região central – eram indispensáveis. Por conta da passagem do Rio Ivo, a Praça chegou a ser conhecida como Largo do Ivo e após a construção de uma ponte sobre este mesmo rio, Largo da Ponte. O fato é que a presença de água corrente garantiu a importância do local para seus moradores que iam até a praça para lavar suas roupas ou buscar água para consumo próprio. Esta rotina chamou a atenção na época do engenheiro Antônio Rebouças Filho – o mesmo que, junto do seu irmão André, foi responsável pelo projeto da via férrea Curitiba/Paranaguá. O engenheiro propôs a canalização de uma fonte de água potável que se localizava no Largo da Misericórdia, atual Praça Rui Barbosa, até a região do Largo da Ponte, que era mais acessível e com maior fluxo de pessoas. Antônio utilizou para isso encanamento feito de cobre, vindos do Rio de Janeiro e torneiras vindas da Europa, que ficariam suspensas em uma estrutura de concreto sextavada. No dia 8 de Setembro de 1871, o chafariz do Largo da Ponte, atual Praça Zacarias, foi inaugurado, trazendo consigo o primeiro sistema de água encanada da cidade.

A Praça Zacarias localiza-se ao término de uma das principais Avenidas de Curitiba, a Marechal Deodoro, e se conecta com o mais famoso calçadão da cidade, a Rua XV de Novembro. É uma das praças mais antigas do município, sendo contemporânea a construção da Praça da Matriz, atual Praça Tiradentes, e do Largo Lobo de Moura, atual Praça Santos Andrade.

feira_hippie_60.jpg

Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória.

20220621_093137.jpg

O chafariz funcionaria até 1910, quando novas melhorias garantiriam água encanada para os moradores da cidade. Desta forma, paulatinamente,a peça acabaria perdendo o uso, sendo desmontada e levada para o Museu Paranaense em 1939, onde permaneceria até a década de 1960. Somente em 1968 é que o chafariz retorna ao seu lugar de origem, ganhando forma de monumento e marcando sua importância para a história da cidade.  

zaca-1.jpg

Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.

Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.

Além da questão relacionada ao abastecimento, a Praça Zacarias ainda teria destaque na história da cidade por outros fatores. Antes mesmo da instalação do chafariz por Antônio Rebouças, o local já sediava, desde 1864, o primeiro Mercado Municipal. Por este fato, a praça também ficaria conhecida como Largo do Mercado, abrigando sua sede até 1874, quando uma nova construção seria a ele destinada na atual Praça Generoso Marques. A Praça Zacarias também sediou a primeira sede do Museu Paranaense. Inaugurado em 1876, o Museu Paranaense é considerado como um dos mais antigos Museus do Brasil ainda em funcionamento. Originado por meio de uma iniciativa privada, o Museu se tornaria uma instituição pública em 1883 e, por conta disso, em 1886 mudaria para um prédio do governo, na esquina da Alameda Dr. Muricy. O mesmo edifício que abrigou o Museu em seus primeiros anos, em 1899 daria lugar a inauguração da Loja Fraternidade Paranaense, um templo da maçonaria do estado. Em 1919, o edifício contaria com uma reforma e ganharia uma escultura de duas águias aladas, um dos símbolos utlizados pela maçonaria, próximas ao seu telhado. Apesar do edifício não mais existir e ter dado lugar a construção do Edifício Acácia na década 1960, a escultura permanece lá, quase que escondida entre os prédios.

Com a virada do século XIX para o XX, a Praça ganharia algumas reformas, como o calçamento, a exemplo do que ocorreu em grande parte dos espaços públicos do centro de Curitiba na mesma época. O lugar que já havia sido batizado com diversos nomes, seria renomeado uma última vez em 1915, em homenagem a Zacarias de Góes e Vasconcelos, o primeiro presidente da Província do Paraná. Nascido na Bahia em 1815, Zacarias de Góes e Vasconcelos foi um grande estadista do período do Segundo Reinado, ocupando diversos cargos políticos e administrativos em vários lugares do Brasil. Renomado pela sua oratória e seus discursos fervorosos, despertou a atenção de escritores como Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Ao cobrir uma sessão do Senado em 1860, Machado de Assis relatou que Zacarias “quando se erguia, era quase certo que faria deitar sangue a alguém”. O busto em homenagem a Zacarias de Góes e Vasconcelos foi esculpido em bronze por Roberto Lacombe e foi colocado no centro da Praça em 19 de Dezembro de 1915, ano do centenário de nascimento do estadista. Atualmente, o busto original encontra-se no Memorial de Curitiba e na Praça Zacarias está uma réplica.

Em 1939, a Praça também receberia outra importante inauguração, a do Cine Luz, situado nas esquinas da Avenida Marechal Deodoro com a Alameda Dr. Muricy. Foi o segundo cinema da capital, que até a década de 1950 contaria com um total de cinco, todos situados próximos a Rua XV de Novembro. Infelizmente, eram frequentes as enchentes que tomaram conta do cinema e em 1961, um incêndio de grandes proporções o teria destruído. O Cine Luz foi reinaugurado em 1985, na Rua XV de Novembro, ao lado da Praça Santos Andrade, e por ali manteve suas atividades até 2009.  

Na década de 1960, em meio a repressão vivida pela ditadura militar, a Praça Zacarias também foi palco de resistência. Em 1968, mais precisamente, um grupo de alunos da Escola de Belas Artes do Paraná, que se situava nos arredores da Praça, passaram a se reunir no local para expor algumas de suas obras e trabalhos. Conforme a prática se tornou constante, outros artistas e artesãos também fizeram uso da praça para este fim, o que levou a feira a ficar conhecida popularmente como Feira Hippie. Por não ter autorização governamental, os seus feirantes tinham de viver constantemente com batidas policiais, em meio a um momento bastante repressivo da ditadura militar no Brasil. Sua regulamentação viria somente em 1972 com o prefeito Jaime Lerner.  

Passeando pela Praça Zacarias nos dias de hoje, podemos nos atentar para elementos de um passado muito distante e por elementos de urbanização bastante recentes. A Praça, que no passado era trajeto de bondes elétricos, hoje continua sendo importante para o transporte público, com vários pontos de ônibus e alguns pontos de táxi. Os edifícios que ali estão nos remetem a várias épocas e cedem seu espaço para um comércio diversificado. A Loja Pernambucanas, que já na década de 1940 localizava-se na esquina com a Alameda Dr. Muricy, permanece ainda no mesmo local. Logo a sua frente, o chafariz do século XIX, não nos deixa esquecer de um grande marco na história da cidade realizado por um engenheiro negro, num período ainda de escravidão no Brasil. Em contraponto, em outra esquina da Praça observamos a reforma do prédio do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, que desde sua construção em 1928 buscou abrigar um museu referência em pesquisa da arte no mundo. Caminhar pela Praça Zacarias, que apesar de pequena em comparação a tantas outras do centro da cidade, torna-se um convite para descobrir momentos únicos e bastante diferentes da nossa história.

A PASSAGEM DO TEMPO

Fontes: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória e Equipe do Observatório do Espaço Público.

PERCEBENDO O ESPAÇO