PRAÇA ZACARIAS
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
A PRAÇA
Apesar de pequeno porte, o local foi de suma importância para a cidade antes mesmo da emancipação da Província, uma vez que o local possuía uma fonte de água para os moradores. Em um momento em que a cidade crescia, mas que ainda não possuía um sistema de água encanada, as poucas fontes de água potável – inclusive na região central – eram indispensáveis. Por conta da passagem do Rio Ivo, a Praça chegou a ser conhecida como Largo do Ivo e após a construção de uma ponte sobre este mesmo rio, Largo da Ponte. O fato é que a presença de água corrente garantiu a importância do local para seus moradores que iam até a praça para lavar suas roupas ou buscar água para consumo próprio. Esta rotina chamou a atenção na época do engenheiro Antônio Rebouças Filho – o mesmo que, junto do seu irmão André, foi responsável pelo projeto da via férrea Curitiba/Paranaguá. O engenheiro propôs a canalização de uma fonte de água potável que se localizava no Largo da Misericórdia, atual Praça Rui Barbosa, até a região do Largo da Ponte, que era mais acessível e com maior fluxo de pessoas. Antônio utilizou para isso encanamento feito de cobre, vindos do Rio de Janeiro e torneiras vindas da Europa, que ficariam suspensas em uma estrutura de concreto sextavada. No dia 8 de Setembro de 1871, o chafariz do Largo da Ponte, atual Praça Zacarias, foi inaugurado, trazendo consigo o primeiro sistema de água encanada da cidade.
A Praça Zacarias localiza-se ao término de uma das principais Avenidas de Curitiba, a Marechal Deodoro, e se conecta com o mais famoso calçadão da cidade, a Rua XV de Novembro. É uma das praças mais antigas do município, sendo contemporânea a construção da Praça da Matriz, atual Praça Tiradentes, e do Largo Lobo de Moura, atual Praça Santos Andrade.
Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória.
O chafariz funcionaria até 1910, quando novas melhorias garantiriam água encanada para os moradores da cidade. Desta forma, paulatinamente,a peça acabaria perdendo o uso, sendo desmontada e levada para o Museu Paranaense em 1939, onde permaneceria até a década de 1960. Somente em 1968 é que o chafariz retorna ao seu lugar de origem, ganhando forma de monumento e marcando sua importância para a história da cidade.
Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.
Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.
Além da questão relacionada ao abastecimento, a Praça Zacarias ainda teria destaque na história da cidade por outros fatores. Antes mesmo da instalação do chafariz por Antônio Rebouças, o local já sediava, desde 1864, o primeiro Mercado Municipal. Por este fato, a praça também ficaria conhecida como Largo do Mercado, abrigando sua sede até 1874, quando uma nova construção seria a ele destinada na atual Praça Generoso Marques. A Praça Zacarias também sediou a primeira sede do Museu Paranaense. Inaugurado em 1876, o Museu Paranaense é considerado como um dos mais antigos Museus do Brasil ainda em funcionamento. Originado por meio de uma iniciativa privada, o Museu se tornaria uma instituição pública em 1883 e, por conta disso, em 1886 mudaria para um prédio do governo, na esquina da Alameda Dr. Muricy. O mesmo edifício que abrigou o Museu em seus primeiros anos, em 1899 daria lugar a inauguração da Loja Fraternidade Paranaense, um templo da maçonaria do estado. Em 1919, o edifício contaria com uma reforma e ganharia uma escultura de duas águias aladas, um dos símbolos utlizados pela maçonaria, próximas ao seu telhado. Apesar do edifício não mais existir e ter dado lugar a construção do Edifício Acácia na década 1960, a escultura permanece lá, quase que escondida entre os prédios.
Com a virada do século XIX para o XX, a Praça ganharia algumas reformas, como o calçamento, a exemplo do que ocorreu em grande parte dos espaços públicos do centro de Curitiba na mesma época. O lugar que já havia sido batizado com diversos nomes, seria renomeado uma última vez em 1915, em homenagem a Zacarias de Góes e Vasconcelos, o primeiro presidente da Província do Paraná. Nascido na Bahia em 1815, Zacarias de Góes e Vasconcelos foi um grande estadista do período do Segundo Reinado, ocupando diversos cargos políticos e administrativos em vários lugares do Brasil. Renomado pela sua oratória e seus discursos fervorosos, despertou a atenção de escritores como Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Ao cobrir uma sessão do Senado em 1860, Machado de Assis relatou que Zacarias “quando se erguia, era quase certo que faria deitar sangue a alguém”. O busto em homenagem a Zacarias de Góes e Vasconcelos foi esculpido em bronze por Roberto Lacombe e foi colocado no centro da Praça em 19 de Dezembro de 1915, ano do centenário de nascimento do estadista. Atualmente, o busto original encontra-se no Memorial de Curitiba e na Praça Zacarias está uma réplica.
Em 1939, a Praça também receberia outra importante inauguração, a do Cine Luz, situado nas esquinas da Avenida Marechal Deodoro com a Alameda Dr. Muricy. Foi o segundo cinema da capital, que até a década de 1950 contaria com um total de cinco, todos situados próximos a Rua XV de Novembro. Infelizmente, eram frequentes as enchentes que tomaram conta do cinema e em 1961, um incêndio de grandes proporções o teria destruído. O Cine Luz foi reinaugurado em 1985, na Rua XV de Novembro, ao lado da Praça Santos Andrade, e por ali manteve suas atividades até 2009.
Na década de 1960, em meio a repressão vivida pela ditadura militar, a Praça Zacarias também foi palco de resistência. Em 1968, mais precisamente, um grupo de alunos da Escola de Belas Artes do Paraná, que se situava nos arredores da Praça, passaram a se reunir no local para expor algumas de suas obras e trabalhos. Conforme a prática se tornou constante, outros artistas e artesãos também fizeram uso da praça para este fim, o que levou a feira a ficar conhecida popularmente como Feira Hippie. Por não ter autorização governamental, os seus feirantes tinham de viver constantemente com batidas policiais, em meio a um momento bastante repressivo da ditadura militar no Brasil. Sua regulamentação viria somente em 1972 com o prefeito Jaime Lerner.
Passeando pela Praça Zacarias nos dias de hoje, podemos nos atentar para elementos de um passado muito distante e por elementos de urbanização bastante recentes. A Praça, que no passado era trajeto de bondes elétricos, hoje continua sendo importante para o transporte público, com vários pontos de ônibus e alguns pontos de táxi. Os edifícios que ali estão nos remetem a várias épocas e cedem seu espaço para um comércio diversificado. A Loja Pernambucanas, que já na década de 1940 localizava-se na esquina com a Alameda Dr. Muricy, permanece ainda no mesmo local. Logo a sua frente, o chafariz do século XIX, não nos deixa esquecer de um grande marco na história da cidade realizado por um engenheiro negro, num período ainda de escravidão no Brasil. Em contraponto, em outra esquina da Praça observamos a reforma do prédio do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, que desde sua construção em 1928 buscou abrigar um museu referência em pesquisa da arte no mundo. Caminhar pela Praça Zacarias, que apesar de pequena em comparação a tantas outras do centro da cidade, torna-se um convite para descobrir momentos únicos e bastante diferentes da nossa história.
A PASSAGEM DO TEMPO
Fontes: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória e Equipe do Observatório do Espaço Público.
PERCEBENDO O ESPAÇO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
SENSAÇÕES
Apesar de seu caráter mais discreto, a Praça Zacarias apresenta-se como um espaço público marcante do centro de Curitiba devido principalmente ao elevado fluxo de transeuntes em sua extensão. Percebe-se que o uso desse espaço é principalmente de passagem, por conectar espaços e vias altamente movimentadas. Os pontos de ônibus que se estendem por toda a lateral da praça da R. Zacarias, juntamente aos pontos de taxi que se encontram na extensão da Al. Dr. Muricy, reforçam esse caráter de movimento no local. Ademais, o fato de o passeio apresentar-se no mesmo nível e com o mesmo tipo de pavimentação que o piso da praça, cria-se uma sensação de mescla em que a praça é uma prolongação do passeio.
Também existem locais convidativos à permanência, como os dois espaços elevados: um central e mais alto, e outro em uma das laterais, porém bem demarcado por conta da pavimentação em pedras avermelhadas. A grande quantidade de bancos, tanto os soltos em madeira quanto os acoplados aos canteiros e em concreto, são elementos que incitam a parada e criam uma unidade para o espaço. Esses bancos de madeira, as floreiras e as luminárias republicanas também conectam a praça a outros espaços públicos da cidade, como a Rua XV. As lixeiras e pontos de ônibus conversam entre si por possuírem um design mais moderno e serem feitos em metal.
A abertura da praça em duas de suas laterais para vias e seu fechamento em comércio nas outras duas, criam um espaço de bastante visibilidade, e consequentemente, de maior segurança para quem a frequenta. A presença das três bancas – duas de café com mesas para fora e uma floricultura - junto da vegetação pouco densa, auxilia a criar essa atmosfera em que as pessoas são vistas e podem ver o que acontece ao seu redor.
Quem vivencia o espaço, ao olhar para as laterais, sente-se no fundo de um vale, por conta da elevada densidade e altura das edificações dos arredores. Existe uma exceção, onde está o Museu de Arte Contemporânea. Por este ser um edifício mais baixo, é possível de se observar o céu sem ter que voltar o olhar para cima.
A praça não apresenta ponto focal predominante, logo, o olhar se perde por entre seus elementos compositivos ortogonais. A impressão que sem tem é de que o busto deveria ser esse ponto de destaque, por sua localização mais central na praça e sua verticalidade. Entretanto, suas cores em tons de branco, cinza e preto se mesclam ao restante da praça, o ofuscando. A fonte, por sua vez, chama atenção pela cor, dimensão lateral e movimento da água, mas sua localização próxima à esquina diminui seu impacto visual dentro do espaço.
Percebe-se a grande conexão da praça com o comércio que a delimita, quando se analisa que a maioria deles são óticas e até mesmo no petit-pavet da praça há o escrito “ótica” e que as tampas e bueiros se localizam próximas aos edifícios. Apesar disso, há também uma grande falta de sensibilidade no local pois não se caracteriza como um local acessível. Apresenta apenas degraus em suas diferenças de níveis e piso tátil em apenas alguns pontos específicos, como perto do paraciclo. É também um espaço pouco convidativo para quem possui animais de estimação, pois os canteiros são elevados.
Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.
Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.
TEXTURAS
Na Praça Zacarias destacam-se as texturas de origem antrópica. A textura da vegetação, diferentemente de outros espaços públicos de Curitiba, não é tão predominante e não cria uma identidade para o local.
Ao caminhar pela praça, é possível sentir a textura das pedras portuguesas que compõem o petit-pavé e do pavimento de um espaço mais elevado feito em pedra de tom mais avermelhado. A textura de pedra bruta também é vista nos canteiros, sobre os quais bancos em concreto são apoiados.
As texturas das fachadas dos edifícios do entorno mostram-se muito presentes na paisagem. Na Rua Zacarias, se sobressaem a textura das janelas do prédio rosa e de um prédio com fachada de vidro em formas quadrangulares. Na Alameda Doutor Muricy, a de um prédio com linhas horizontais intercaladas de um revestimento azul e das janelas. Na esquina entre a Rua Zacarias e a Travessa Oliveira Bello, as linhas verticais e horizontais de um prédio cinza criam a textura de uma grelha. E olhando da Rua Zacarias para o interior da praça, a textura de um prédio criada pelas linhas verticais cinza que sobrepõem as linhas horizontais de azul e das janelas, além da de um prédio bege possui janelas “emolduradas”.
ODORES
Provavelmente por se caracterizar como um espaço de passagem e efemeridade, os odores presentes na praça não são grandes marcadores do espaço. A poluição pode ser sentida, porém não se destaca, e o café das bancas normalmente não é sentido.
SONS
A Praça Zacarias é contornada por duas vias bem movimentadas, o que faz com que o barulho de veículos circulando seja bem predominante. Diferentemente da Rua XV, o som dos transeuntes não é tão presente, apesar de muitas pessoas circulando pelo espaço. O barulho da fonte é outro ponto sonoro marcante, mas que se percebe apenas muito próximo a ela, já que o som intenso dos veículos abafa o delicado da água em movimento.
CORES
As cores da Praça Zacarias seguem o padrão observado em outros espaços públicos da capital paranaense. Os tons neutros de preto e branco do pavimento em petit pavet se intercalam com os tons orgânicos da vegetação e da madeira dos mobiliários criando um equilíbrio.
Diferentes cores são adicionadas à paisagem pelos edifícios que a cercam. Devido ao uso comercial, o pavimento térreo costuma ser mais colorido do que o restante da edificação, que tende aos tons neutros. As cores mais encontradas nos edifícios do entorno são o cinza, o rosa e as cores primárias - azul, amarelo e vermelho.
Fotografia: Equipe do Observatório do Espaço Público.
ARBORIZAÇÃO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
Jerivá | Syagrus romanzoffiana
O Jerivá pertence à família Arecaceae e é conhecido por coco-babão, coqueiro-jerivá e baba-de-boi. É nativa do Brasil, ocorre naturalmente entre a Bahia e o Mato Grosso do Sul. Pode atingir entre 10 e 15 metros de altura, com tronco não muito grosso. A floração acontece entre setembro e março, com grande intensidade entre a primavera e o verão. Suas flores são pequenas e brancas, e ficam penduradas pelo topo da árvore. A frutificação acontece durante quase o ano todo, com maior intensidade no inverno - quando pequenas esferas amarelo-alaranjadas aparecem no lugar das flores.
Acácia-mimosa | Acacia podalyriifolia
A Acácia-mimosa é nativa da Austrália. Possui folhas de cor verde claro, aparentemente esbranquiçadas. Durante a primavera, suas flores amarelas – em formato de bolinha – florescem na ponta dos galhos. Elas tem até 6 metros de altura e se encontram em volta dos bancos da Praça.
Cássia | Senna multijuga
A Cássia também é chamada de aleluia, caquera e pau-cigarra. Pertence à família Fabaceae e é encontrada por todo o país. Tem porte médio, com até 10 metros de altura e tronco curto. A copa é arredondada com média de 5 metros de diâmetro. As folhas são compostas, e caem no inverno. Entre dezembro e abril, flores amarelas perfumadas aparecem na extremidade de galhos, e de abril a junho transformam-se em frutos deiscentes em forma de vagem.
Manacá | Tibouchina sellowiana
O Manacá também é conhecido como Quaresmeira, ou Manacá-da-Serra, devido a quantidade de árvores dessa espécie no caminho da Serra do Mar. É nativa do Brasil, do Sudeste ao Sul do País. Pertence à família Melastomataceae, em que as nervuras da folha seguem seu formato. Ela atinge até 6 metros de altura. A floração acontece entre dezembro e maio ou durante o outono e durante esse período as flores que vão desde brancas à roxas, se manifestam.
ENTORNO IMEDIATO
Clique nas imagens para saber mais sobre cada um dos edifícios que compõem o entorno da praça!
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
PASSEIO VIRTUAL
Se você está andando pela praça, escute nosso podcast e siga os pontos marcados no mapa:
Se você está em um passeio online, fique à vontade para ouvir o podcast enquanto explora os ícones no mapa abaixo para continuar a descobrir a Praça Zacarias!
Mapa: autoria própria com base em dados do IPPUC
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
Fotografias
Este material também está contido em um folheto que você pode baixar e imprimir clicando aqui:
Equipe: Alessando Filla Rosaneli, Amanda Machado, Beatriz Fófano Chudzij, Bianca Araújo, Érica Martinelli Victorino, Giulia Vendrami Gomes, Isabela Ventura de Camargo, Janelize Marcelle Diok Rodrigues, Maria Luiza Ballarotti, Mario Pavanelli, Núbia Parol