
RUA COMENDADOR ARAÚJO

Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
A RUA E SUA HISTÓRIA
Com o avanço da República, o Império se tornou coisa do passado, e com isso, elementos que remetiam a esse período foram reformados. Um exemplo é a Praça Santos Andrade. Sua história tem início registrado em 1816, quando não passava de um depósito de lixo. Algumas décadas depois, em 1879, a área se tornou um extenso campo permanentemente alagado, entre a Rua São Francisco e as ruas Marechal Deodoro e Garibaldi (atual Presidente Faria). Nessa época, a praça era chamada de Largo Lobo de Moura, e um ano depois (1880) recebeu outro nome: Largo Duque de Caxias, em homenagem a um herói militar falecido na época. Entretanto, a mudança gerou revolta popular, e as pessoas exigiram que o nome original fosse restabelecido. Mais tarde, em 1886, a praça foi canalizada pelo Presidente Taunay, em função da construção do Passeio Público, e quatro anos depois, em 1890, o local novamente recebeu um outro nome: Largo Thereza Christina, em homenagem à Imperatriz, mulher do Imperador Dom Pedro II. É interessante ressaltar que, tal homenagem ao Império foi um fato isolado na época. Finalmente, em 1901, o nome Praça Santos Andrade foi designado e persiste até os dias de hoje.
O nome surgiu em homenagem ao ex-presidente do Estado do Paraná, José Pereira dos Santos Andrade, nascido em 9 de abril de 1842, em Paranaguá, litoral do Estado. Estudou em São Paulo, advogou em Minas Gerais e se formou em direito em Recife. Além disso, José dos Santos Andrade foi nomeado Promotor Público em Antonina, PR, Deputado Provincial e Senador Federal, deixando esse último cargo ao ser eleito Presidente do Paraná. Ele governou até pouco antes de sua morte, em junho de 1900.
Fonte: Alessandro Casagrande e CuritibaAntiga
Na época em que a praça foi renomeada pela última vez, seu aspecto era muito diferente do que se vê atualmente, podendo ser comparado a um terreno baldio. As reformas e cuidados com o espaço tiveram início apenas em 1910, com o processo de construção da Universidade do Paraná (atual campus reitoria da Universidade Federal do Paraná). Esse foi o primeiro passo para outras grandes mudanças. Aos poucos, casas de madeira e mistas deram lugar a comércios e outras construções mais imponentes, a grama que servia de pasto passou a ser cuidada. Um dos exemplos de remodelação mais marcantes se deu em 1922, com as comemorações do Centenário da Independência do Brasil. Nesse momento, a praça recebeu ajardinamento adequado e que seguia o estilo dos jardins belgas, além de três chafarizes, iluminação, bancos de madeira e uma estátua em homenagem ao padre curitibano IIdefonso Ferreira. Outro fato interessante que ocorreu durante essa comemoração, foi o plantio de um pinheiro por parte do presidente do Estado da época, Caetano Munhoz da Rocha. Até hoje, essa árvore é conhecida como 'pinheiro do centenário'. Outra reforma importante ocorreu em 1977, quando o piso do local recebeu revestimento de petit pavet e a rua foi fechada para o trânsito de automóveis
Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória.
Atualmente, a praça conta com diversos outros elementos, tais quais, pontos de ônibus e taxi, prédios, arborização e diversos outros monumentos e estátuas (todos voltados para a Universidade, um dos fatores que desencadeou o surgimento do apelido "Praça da Cultura"). Dentre os homenageados pode-se citar Julia Wanderley, professora, historiadora e primeira poetisa do Paraná; Nilo Cairo, um dos criadores intelectuais da Universidade Federal do Paraná; Santos Dumont, Vítor do Amaral e Rui Barbosa.
Fonte: Equipe Observatório do Espaço Público
PERCEBENDO O ESPAÇO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
TEXTURAS
A Praça Santos Andrade possui uma gama de ambiências, pois a própria riqueza da experimentação de um espaço implica, em efeito, que o passeante se entrechoque ante os diferentes níveis de sua percepção sensorial, realocando seu corpo e sua consciência. Assim, o duplo registro da visão e da experiência do corpo proporciona aos usuários e transeuntes uma diversidade de experiências e sensações. A partir do entendimento das diferenças de estímulos, podemos considerar que o largo possui dois núcleos principais que abrigam usos diferenciados. O primeiro corresponde ao grande calçadão que circunda as escadarias do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná: esse local aberto é cotidianamente um espaço de passagem e aglomeração de grupos e vendedores, além de também ser palco de manifestações políticas e culturais. Já o segundo núcleo compreende parte da praça que é circundada pela vegetação. Dentro de um mesmo lugar, a Santos Andrade nos proporciona diferentes experiências a partir dessa divisão que os desníveis e sua vegetação proporcionam.
A localização central da Praça Santos Andrade e suas dimensões modestas contribuem para a inserção da paisagem sonora das ruas da vizinhança de maneira bastante proeminente, principalmente em seu perímetro. Como ponto de ligação entre a rua e praça, o principal material é o asfalto proveniente das vias que circundam o desenho do terreno. Isso nos leva a uma transitoriedade nítida entre o asfalto e o piso de petit-pavê, que composto com pedra granito, se estende por todas as áreas de circulação e permanência da praça. As vias confrontantes são bastante movimentadas: os sons dos usuários do largo são amortecidos em meio à recorrência de buzinas e ruídos de aceleradores de veículos. Ademais, os cheiros predominantemente percebidos são advindos das atividades desenvolvidas nos arredores da Santos Andrade - seja a fumaça que sai do escapamento dos carros seja a comida preparada pelos restaurantes. Esse aspecto, somado à integração física com o passeio do entorno, acaba por criar uma atmosfera essencialmente de passagem aos caminhos mais próximos às vias - onde a velocidade demandada pelas atividades da cidade grande se sobrepõe ao contemplamento normalmente esperado de uma praça. Os estímulos auditivos dos veículos são ainda mais intensos no passeio da Rua Alfredo Bufren, onde concentram-se pontos de ônibus e suas consequentes filas de embarque.
CORES
O verde da grama se mescla com as variadas porções de terra aparente, que em certos pontos permitem a observação das raízes das árvores - extensão dos troncos com variadas superfícies. Na verdade, é inevitável não pensarmos em praças e não considerarmos que as cores que fluem em nossa mente são tons de verde e tons acinzentados. Na Santos Andrade, como comentado, os tons de verde são predominantes justamente pela massa de vegetação. E partindo da vegetação temos um amplo conjunto de cores pela dinamicidade de folhas, galhos, raízes e flores. Em muitos casos temos como um mosaico de cores e seus tons, ao por exemplo, flores se dispersaram pela praça em seu petit-pavê ou na própria grama de tons verdes mais escuros. Ali cores como o vermelho, amarelo e lilás ganham graciosidade postas sobre a grande massa de tons esverdeados. Essas cores mais vivas e quentes se distribuem sobre as flores dos canteiros, mais especificamente sobre os dois complexos da extremidade da praça e por apenas algumas árvores que se distribuem pelos espaços. Partindo da vegetação ainda temos o marrom presente nos troncos e raízes, e a própria madeira que constituem os bancos, mobiliário urbano da praça.
Ao pensarmos nos tons cinzas, esse fluxo de cores frias se dá justamente pelo olhar do pisar, do metal dos mobiliários urbanos e do contexto, ou seja, preto, cinza e branco fluem do piso Petit-pavê e dos edifícios que circundam a praça. Esses tons frios do entorno fazem com que tenhamos uma transição mais calma para o verde, elas não se chocam e nem são gritantes. O branco ganha aqui nessa praça um principal ponto focal, a Universidade Federal do Paraná, em completa predominância da cor branca traz tranquilidade para a praça, e apesar de ser uma grande massa edificada, o edifício histórico não subtrai a atenção da praça, mas sim entra em harmonia.






Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
SENSAÇÕES
Além de um olhar centrado ao pisar, temos aspectos táteis circundando todo e qualquer meio da praça. A textura da vegetação e para além disso, suas minúcias como tronco, raiz, grama e terra. A massa de vegetação traz a personalidade de um respiro entre as pedras. Temos troncos com superfícies lisas, ásperas, rasas, compostas com ou sem manchas, grosseiras e até mesmo outras que se sobrepõem à própria vegetação. As suas cores criam texturas e sensações conforme a transitoriedade do tempo. No outono, por exemplo, temos nas texturas das folhas das árvores a sensação e toque do “seco e do esfarelar”: ou seja, o tempo torna-se agente de texturas no espaço. Fazendo conexão com esses elementos naturais, temos ainda a madeira presente na textura dos bancos dispostos na praça. É interessante pensar como a madeira, em um senso comum, tem a capacidade de nos aproximar da natureza, tendo em vista que sua superfície estimula a sensação de ritmo de movimento e vida, uma percepção natural de harmonia e fluidez para as pessoas, e fazer com que o elemento se torne mais aconchegante.
O ritmo da forma circular também percorre os canteiros que estão localizados no mesmo nível da rua, mas desta vez em elementos metálicos que protegem a grama - continuidade que estimula a movimentação horizontal, principalmente nas áreas mais abertas para o restante da cidade.
ODORES
A dimensão da praça e seus usos influenciam na mudança de odores ao longo do ano. Na época de feirinhas, cheiros de comidas e bebidas, especialmente no inverno, envolvem os pedestres que passam pela praça. Devido à seu caráter de permanência, cheio de bancos, também sentimos cheiros de fumaças, das pessoas que passam um tempo sentadas.
Mais ao meio, perto das fontes, a água que se movimento envolve quem passa pela lembrança de épocas com chuva. Assim como a barreira criada pela árvores, que, em época determinada, nos agracia com o cheiro das suas flores.
Já em volta da quadra, sentimos os cheiros da cidade: carros e motos e ônibus que levam pessoas aos seus destinos.
SONS
O andar pela espaço volta nossa audição pelo ruído de automóveis que fazem seus percursos nas ruas que contornam o espaço, mas os sons de motores, o ruído do trânsito, assim como outros aspectos sonoros, dependem do fator tempo, ou seja, em alguns horários do dia o som dos carros se dispersa e voltamos nossa audição para o som de conversas e burburinhos, risos discretos ou estridentes, cachorros latindo e o som de crianças brincando, além do som do movimento humano, no caso o som dos passos das pessoas e sons sociais e comunitários (que são os sinos, relógios, alarmes, entre outros). No geral, os sons que transcorrem pela Santos Andrade e suas fontes sonoras são sons, ruídos, tanto gerados pela natureza, quanto pelas atividades humanas.
Há uma série de estímulos auditivos que podem contribuir para o nosso bem-estar, além de preservar a memória dos espaços e da cidade como um todo. Músicas, conversas, canto de pássaros e barulho de água são exemplos de sons que podem ajudar a nos deixar mais centrados e confortáveis no ambiente urbano. À medida que se avança ao centro da praça, um novo som vai se destacando em meio à confusão do tráfego: uma fonte de água com chafarizes fica visível entre os canteiros. O fluxo dividido em diversos jatos gera um barulho acelerado de água, que permite uma sensação maior de tranquilidade àqueles que decidem utilizar os bancos mais a centro da área abaixo do nível da malha urbana circundante. Assim, entende-se que esta fonte cria identidade ao espaço sonoro da praça, é uma interferência positiva na percepção sonora, pois o som da água nos remete a tranquilidade, serenidade, e é como uma pausa sonora em meio a ruídos. Esse aspecto contribui para a sensação de que o tempo passa mais devagar ao descer os degraus ou a rampa, ainda que a diferença de nível não seja muito pronunciada, o tempo parece passar mais devagar ao descer os degraus ou a rampa - como um oásis em meio a agitação do cotidiano dali, que nos convida a sentar em um dos bancos circundantes sob a copa das árvores e a observar a vida acontecendo ou a fechar os olhos e ouvir em primeiro plano o cair da água e a vida acontecendo ao fundo: é o local mais convidativo à contemplação de toda a Praça.
VEGETAÇÃO
Tendo em vista que a praça está localizada no centro da cidade e é cercada majoritariamente por edifícios altos e imponentes, percebe-se que a vegetação diminui a escala conforme se aproxima do centro da praça. Essa redução do porte da vegetação faz com que a diferença de tamanho entre as pessoas e as edificações seja amenizada.
Desta forma, árvores de grande porte são encontradas na parcela mais externa da praça enquanto arbustos, flores e forrações ficam mais ao centro.
Além disso, o plantio da vegetação forma barreiras físicas e visuais que criam planos capazes de segmentar a praça em 3 partes: A parte em frente ao Prédio Histórico da UFPR, o centro que é marcado pela fonte e a parte em frente ao Teatro Guaíra.








Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
As texturas são variadas pois são encontradas diversas espécies com folhas e tons de cores variantes. Dentre as cores que se ressaltam além do verde, pode-se encontrar arbustos com coloração rosa, herbáceas com flores amarelas, roxas e brancas, árvore com tons amarelados e alaranjados. Vale ressaltar que essa predominância pode variar de acordo com a época de floração de cada espécie.





Clique nas imagens para saber mais sobre algumas das plantas que compõem a praça!
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.

Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
EDIFÍCIOS NOTÁVEIS
Notavelmente, a maior parte da arquitetura que envolve a praça Santos Andrade, consiste em edifícios simples e relativamente antigos, agregando ao caráter histórico do local. A maior parte das construções é considerada parte do patrimônio da cidade de Curitiba. Poucas construções ultrapassam os 15 andares, e a maioria possui cores neutras. Dentre os empreendimentos, notam-se prédios residenciais, algumas pequenas lojas com aparência antiga, como um correio e um correio telégrafo, além de um posto de gasolina, um hotel, e alguns restaurantes. Entretanto, os prédios que mais chamam a atenção quando se pensa sobre a arquitetura que envolve a praça, são o prédio histórico da UFPR em uma ponta, e o Teatro Guaíra na outra.
Clique nas imagens para saber mais sobre cada um dos edifícios no entorno da praça!





Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
