[Des]pertenc(cimento)s

No percurso traçado e caminhado as quartas e quintas feiras, para me deslocar de A para B, de casa para o trabalho, onde voluntariamente proponho discussões sobre o território, observo que na linha formada por esses dois pontos, há um retorno temporal, partindo de um bairro mais recente, para um mais tradicional, as características paisagísticas, arquitetônicas e pedonais revelam essas transformações, aliás, é para o chão que agora observo atento, buscando marcas, pegadas e características. Aliás, é nestes espaços que também noto a presença de pertences descartados, que aguardam nas calçadas e nos meios-fios, para serem recolhidos. São móveis, utensílios domésticos, apetrechos e relíquias que por escolha ou não de seus donos, foram inseridos nestes pedaços de chão. A partir dos descartes, atribui-se a esta paisagem urbana características efêmeras, como peças móveis que ao longo das semanas podem ser modificadas, substituídas ou retiradas. Fazemos parte da sociedade do consumo e do descarte, mal ensinados a respeito de que para o novo entrar, o velho deve sair, é isto que constato ao realizar essa andança retilínea, onde encontro estes “[des]pertenc(cimento)s”, por serem pertences descartados nessa superfície cimentícia.