
RUA COMENDADOR ARAÚJO


PRAÇA 19 DE DEZEMBRO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
A PRAÇA E A SUA HISTÓRIA
Na data de 19 de dezembro de 1953 em comemoração ao centenário da Emancipação Política da Província do Paraná, qual o atual Estado se desvencilhou politicamente de São Paulo, foram planejados diversos projetos de caráter urbano em simbolismo e reafirmação da independência paranaense. Planejados como um conjunto de obras que se complementam e ilustram a capacidade econômica e política do Estado, adotaram por escolher o modernismo como estilo representante dessas mensagens, para GONÇALVES (2016, p.2) “A partir de sua construção e divulgação como parte dos festejos do centenário, a arquitetura moderna se consolida na capital paranaense”.
Dentre o conjunto de obras comemorativas estava a Praça Dezenove de Dezembro, localizada no Centro de Curitiba, entre as ruas Inácio Lustosa, Riachuelo, Paula Gomes e Barão do Serro Azul. Seu projeto desde o princípio contava com a inserção de obras de arte e assim valorizar o espaço público, sendo composta então por um obelisco, um espelho d’água, um painel de duas faces (contemplado por duas artes distintas), um elemento escultórico e, posteriormente, completada com a implantação de outra escultura.
Inaugurada em 1953, mas somente finalizada em 1955, a praça traz em cada um de seus elementos artísticos uma referência histórica individual e cronologicamente separados. Em 15 de julho de 1955 inaugura-se o painel sinuoso de duas faces, uma de granito em baixo-relevo “retratando os ciclos econômicos do Estado (extrativismo, colonização, ciclo do trigo, da erva-mate, do café)” (Bahls, 2005, p.18) com autoria de Erbo Stenzel, voltado para a praça; e sua outra face de azulejos azuis concebida pelo artística curitibano Poty Lazzarotto, espelhando a evolução política do Paraná.
TAVARES (2015, p.12) em seu artigo traz em primeira análise que a forma não linear do painel serve de referência a não linearidade da história e suas rupturas. E continua, dizendo:
"O que mais impressiona é que o painel se encontra diante de uma escola e também de pontos de ônibus, símbolos do saber sistematizado - escola - e do popular - ponto de ônibus. Também se pode pensar que o painel encontra-se diante desses dois espaços simbólicos para dizer que a história do Paraná se faz com o povo e o saber e que ambos são parte integrantes dessa história e não estão dissociados dela, ou seja, encontram-se não somente representados nela, mas pertencentes a ela.”
O segundo elemento na praça, e o mais alto, é o obelisco de pedra que contém a escritura comemorativa da data.
E finalmente a escultura pela qual a praça é bastante conhecida, encomendada pelo governador Bento Munhoz de Rocha ao Humberto Cozzo - “Homem Paranaense”, que na opinião de muitos “De tudo que foi projetado e construído [...] a obra mais polêmica sem dúvida nenhuma é a estátua que representa o Paraná emancipado, rumo ao futuro” (CASTRO, 2016, p.23). Com o intuito de retratar a evolução do Estado e sua liberdade, a escultura de um homem despido dando um passo à frente ficou mais conhecida como a estátua do “homem nu” e assim causando várias opiniões contrárias ao mesmo. Posteriormente, após vinte anos deixada atrás do prédio do Palacio Iguaçu, a praça se completa com a última escultura – a “mulher nua” como também ficou conhecida, qual sem vestes e venda nos olhos representa a Justiça.
GONÇALVES, J. M. Z. A Arquitetura Moderna e o Sesquicentenário de Emancipação Política do Paraná: o tombamento de marcos de referência da arquitetura moderna paranaense. Anais do 5º Seminário Docomomo Brasil, p. 1-11, 2016.
CASTRO, J. M. Monumento ou Estátua: o “Homem nu” da Praça Dezenove de Dezembro. 50 f. Trabalho de Graduação (Bacharelado em História Memória e Imagem) - Departamento de História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016.
TAVARES, R. Leitura do Imaginário: Educação do olhar. 2015.
BAHLS, A. V. S. Símbolos e Monumentos: As comemorações de Emancipação do Paraná nos logradouros de Curitiba. UEPG Ci. Hum., Ci. Soc. Apl., Ling., Letras e Artes, Ponta Grossa, p. 14, 7-20, jun.2006.
PERCEBENDO O ESPAÇO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
SONS
A Praça 19 de Dezembro abriga apenas a fonte central como elemento produtor de som. A queda da água é um acalento em meio à sonoridade do caos urbano promovido pelo entorno no qual a Praça está situada. As ruas movimentadas por carros, ônibus expresso, pessoas circulando e conversando, ambulantes vendendo, crianças e adolescentes entrando e saindo da escola CEAD Poty Lazarotto... Estes elementos da cidade urbana configuram mais a sonoridade da Praça do que os elementos presentes nela em si. A fonte, por sua vez, serve como um ponto de quebra dessa sonoridade, trazendo um acalento ao transeunte que passa por ali ou o visitante que deseja sentar-se em algum dos seus degraus ou bancos, por mais que estes não pareçam muito convidativos.
SENSAÇÕES
ODORES
A Praça 19 de Dezembro em Curitiba oferece uma experiência sensorial onde os odores desempenham um papel fundamental na construção da atmosfera única deste espaço. Ao adentrar a praça, uma variedade de aromas se entrelaça, enriquecendo a jornada dos visitantes.
O frescor da vegetação viva contribui para o ambiente, infundindo o ar com uma sensação revigorante, especialmente após uma chuva suave. O aroma da terra úmida pode se tornar perceptível, trazendo uma sensação de renovação e conexão com a natureza.
A proximidade de elementos feitos de madeira como os bancos, trazem aromas característicos que agregam uma dimensão sensorial adicional à experiência.
A presença das fontes e do espelho d'água oferecem aos visitantes um aroma suave e refrescante da água em movimento.
Outro fator que é perceptível, visto que a praça está situada em meio ao ambiente urbano, são os odores da cidade, incluindo o tráfego e outros elementos de poluição, além do cheiro de alimentos de estabelecimentos próximos, que podem se infiltrar em meio a experimentação sensorial da praça.
Para uma imersão completa nos odores dessa praça única, nada substitui uma visita pessoal, permitindo que cada visitante sinta e aprecie a paleta olfativa nesse espaço
A composição da praça, rica em arte e história, proporciona um espaço propício para a contemplação. Ao caminhar entre as estátuas e explorar os elementos visuais, os visitantes têm a oportunidade de se desconectar do ritmo acelerado da vida cotidiana e se conectar com o ambiente ao redor. A presença de elementos visuais e artísticos combinados com elementos históricos pode criar uma sensação de rica imersão no passado e no presente da cidade. A praça evoca um sentimento de conexão com as raízes e a evolução da região, incentivando uma compreensão mais profunda do contexto histórico.
As estátuas "O Homem Nu" e "A Mulher Nua" desafiam a perspectiva sobre o corpo humano na arte. Ao encarar essas esculturas, os espectadores podem refletir sobre a expressão artística e as mensagens que os artistas pretendem transmitir. O resultado é uma experiência de reflexão íntima e diálogo interno. A presença de bancos e áreas de encontro fomentam um ambiente de convivência. Os visitantes compartilham conversas, interações sociais e momentos de descontração.
Visto que sua localidade se encontra no grande centro de Curitiba, a experiência de encontrar inesperadamente um lugar tranquilo e inspirador, pode trazer uma sensação de felicidade e calma. Entretanto, pelo mesmo motivo de sua localidade, a praça se torna também um local com grande fluxo de passagem de transeuntes, que experimentam um caminhar mais sereno pela presença da vegetação, da fonte de água e pelas obras de arte presentes na praça.
A fusão entre arte, história e natureza cria um espaço onde a mente pode se aventurar por diferentes estados emocionais, desde a reflexão tranquila até o questionamento profundo, tudo isso enquanto se conecta com a essência artística e cultural de Curitiba.
CORES E TEXTURAS
Em termos colorimétricos, pode-se considerar que a Praça 19 de Dezembro procura mesclar-se ao tecido urbano circundante, tendo em vista a predominância de tons neutros e sóbrios - que em geral são contrastantes apenas com o verde da arborização do espaço público, que também está presente no entorno próximo. Dessa maneira, o destaque principal de dentro da praça é a matiz esverdeada presente no fundo do chafariz, enquanto que, para quem observa a partir da rua Riachuelo, a ênfase se dá a partir do azul e do branco presentes no painel em azulejos de Poty Lazzarotto. Assim, as impressões proporcionadas pelos pontos de vista que permitem a visualização dessa superfície diferenciam-se da percepção de quem enxerga apenas o painel de granito em relevo, executado por Erbo Stenzel e Humberto Cozzo.
Considerando-se que o painel encontra-se apoiado acima do nível da calçada da Rua Riachuelo, ao inclinar-se levemente a cabeça para observar melhor o trabalho de Lazzarotto, é possível perceber certa aproximação dos blocos azuis e brancos com o céu limpo em dias ensolarados - principalmente à maior distância da superfície. É também interessante que a maior diferenciação das cores se dá a partir do vestuário dos passantes e da carroceria dos automóveis, tendo em vista que as matizes dos edifícios circundantes, em geral, não apresentam tons tão brilhantes e contrastantes quanto os proporcionados pela ocupação da malha urbana.
Os canteiros de grama, apesar de representarem um expressivo potencial da cor verde, não possuem grandes dimensões para permitir a sensação de imersão em texturas naturais. Dessa maneira, considerando-se a maior visibilidade proporcionada pela disposição mais espaçada da arborização, é possível ter a plena consciência de que se está dentro do tecido urbano, não sendo tão fácil ter a sensação de isolar-se da vida da cidade como em outros espaços públicos da cidade. Apesar da continuidade do petit-pavet nas calçadas confrontantes ao logradouro público, nas arestas há um trabalho com a padronagem que permite a diferenciação dos desenhos mais reconhecidos da porção histórica da cidade de Curitiba. Por exemplo, nas caixas de via que permitiram maior largura de calçada, as pedras pretas foram dispostas em linhas que formam uma estampa quadriculada, preenchida por exemplares em cor branca.
Esses traços instigam o passante a adentrar na praça, considerando-se que os caminhos que conduzem ao interior do espaço público reproduzem a mesma padronagem mas de modo inclinado, visando direcionar as linhas no sentido do caminho a ser percorrido. Ademais, é possível perceber principalmente a diferenciação no revestimento de piso no interior da praça, que compreende blocos lisos de concreto - apesar de não ser tão atrativo por si só, o elemento é empregado para destacar a área das esculturas.
As grandes esculturas em granito que representam o homem e a mulher paranaenses, realizadas também por Erbo Stenzel e Humberto Cozzo, possuem uma coloração acinzentada semelhante à do piso de concreto, e, por isso, passam a impressão de surgirem diretamente do solo quando vistas à distância. O mesmo ocorre com o obelisco de pedra que simboliza o centenário de emancipação do Paraná: apesar de ser possível perceber as diferenças de tonalidade e de textura, à distância ele aparenta ser originário do mesmo material presente na superfície de apoio, como se todos os elementos compussessem um grande conjunto.
As exceções compreendem as estruturas do chafariz e de sustentação dos painéis de Lazzarotto, Stenzel e Cozzo. A base do chafariz é revestida por alvenaria de pedras irregulares, que se aproximam mais dos tons quentes de marrom que do acinzentado do concreto; também é interessante perceber que o formato orgânico do espelho d’água busca maior diferenciação do contexto urbano circundante, o que também é explorado no recuo da estrutura dos painéis. O intervalo antes de começar a grande superfície de concreto, em que os pilares enquadram as visuais opostas, seja da Rua Riachuelo ou do chafariz (dependendo do ponto de vista), distancia a estrutura do revestimento de blocos acinzentados, permitindo menor percepção de surgir do solo, tendo em vista os demais elementos.






VEGETAÇÃO
A Praça 19 de Dezembro é um espaço público mais amplo e aberto, com monumentos imponentes. Esses aspectos refletem também na vegetação que é majoritariamente de grande porte e apesar da sua grande cobertura vegetal, percebe-se que as espécies vegetais não são densas, permitindo assim grande permeabilidade na praça. Isso faz com que seja ao mesmo tempo um local de circulação (marcado pelos pontos de ônibus na lateral) e um local proveitoso para permanência, possibilitado pelo mobiliário e a área de sombreamento.








As texturas são variadas pois são encontradas diversas espécies com folhas e tons de cores variantes. Dentre as cores que se ressaltam além do verde, pode-se encontrar arbustos com coloração rosa, herbáceas com flores amarelas, roxas e brancas, árvore com tons amarelados e alaranjados. Vale ressaltar que essa predominância pode variar de acordo com a época de floração de cada espécie.

EDIFÍCIOS NOTÁVEIS









Clique nas imagens para saber mais sobre cada um dos edifícios que compõem a rua!
A maior parte da arquitetura que envolve a praça Santos Andrade, consiste em edifícios simples e relativamente antigos, agregando ao caráter histórico do local. A maior parte das construções é considerada parte do patrimônio da cidade de Curitiba. Poucas construções ultrapassam os 15 andares, e a maioria possui cores neutras. Dentre os empreendimentos, notam-se prédios residenciais, algumas pequenas lojas com aparência antiga, como um correio e um correio telégrafo, além de um posto de gasolina, um hotel, e alguns restaurantes. Entretanto, os prédios que mais chamam a atenção quando se reflete acerca da arquitetura da praça, são o prédio histórico da UFPR em uma ponta, e o Teatro Guaíra na outra.
PASSEIO VIRTUAL
Se você está andando pela praça, escute nosso podcast e siga os pontos marcados no mapa:
Se você está em um passeio online, fique à vontade para ouvir o podcast enquanto explora os ícones no mapa abaixo para continuar a descobrir a Rua Comendador Araújo!



Este material também está contido em um folheto que você pode baixar e imprimir clicando aqui:




Mapas: autoria própria com base em dados do IPPUC
Equipe: Amanda Neves, Beatriz Fófano Chudzij, Érica Martinelli Victorino, Giulia Vendrami Gomes, Isabela Ventura de Camargo, Maria Luiza Ballarotti, Janelize Marcelle Diok Rodrigues, Jeanne Moro, Alessando Filla Rosaneli